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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Percepção



Não havia malícia nos olhos dela, e nem duplo sentido em suas palavras. Ninguém riria se ela falasse alguma palavra embaralhada ou alguma frase estranha, seria mais do que normal. Ninguém poderia exclui-la por estar descobrindo um mundo ou ter olhos feios voltados para ela. Todos diziam as mesmas palavras, todas no diminutivo, e mesmo que eles não percebessem, isso a irritava profundamente. Ser "fofinha", "bonitinha", não agradavam-na, ela queria ser maior, gente grande; queria se tornar mais do que uma criança, porque todos acreditavam e faziam-na acreditar que criança é apenas criança, não tem responsabilidades, não se importa com a vida e não sabe de nada. Ela queria ser adolescente. O tempo passou, e seu pedido foi atendido, a criança se tornara adolescente e aquele era o primeiro "dia das crianças" em que ela não ganhava presente, já com seus 14 anos. Ela estava com um aperto no coração e sabia do que sofria, sabia que estava apaixonada e que seu amor não era correspondido. Estava organizando suas coisas - aproveitando a semana sem aula - quando algo tirou-a a atenção, era uma foto de seu primeiro presente que lembrava, ela tinha 5 anos e havia ganhado uma "polly". Mas o que realmente a tocava não era a foto e o presente, era lembrar o quanto queria crescer e agora, saber que queria voltar no tempo pra aproveitar mais a vida invés de ficar sonhando com o futuro. As lágrimas foram pingando lentamente na foto e ela se olhou no espelho com o intuito de ver, nele, algo daquela menininha da foto, mas tudo o que encontrou dela foi o diminutivo. Ela nunca foi "bonitona", "lindona", "gostosona", mas agora, diferente de quando era criança, ela sabia que não precisava disso,
porque ela sabia, no fundo de sua alma, que seu brilho era um pouco maior que o de todas as outras. 

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